Por: Engº. Pedro Canga, Representante Provincial do PDAC em Malanje.
Em qualquer ramo da nossa sociedade, assim como na complexa e dinâmica indústria agrícola, a gestão empresarial desempenha um papel decisivo para o sucesso e a sustentabilidade de uma empresa. Daí a necessidade de capacitar, sempre que possível, os gestores das fazendas, para que possam dominar, respeitar e aplicar os princípios da gestão agraria, baseada fundamentalmente no uso racional dos recursos colocados a sua disposição, com vista a aumentar a produção e a produtividade da empresa agrícola.
Embora estejamos a viver na era da disponibilização aberta da informação, com muitas formações sobre gestão agrária disponíveis para o público, actualmente, pelo menos no contexto em que operamos, continuamos a verificar bastante debilidade em muitos gestores das unidades de produção agrícola em matérias de gestão, o que tem contribuído de forma negativa para alcance dos resultados preconizados, quanto a produtividade final.
Assim, para minimizar esta lacuna, o Projecto de Desenvolvimento de Agricultura Comercial (PDAC), sendo um Projecto focado na agricultura comercial e tendo como objectivo principal o aumento da produção e produtividade dos agricultores, tem realizado vários e diferentes tipos de capacitações, em matéria de gestão empresarial agrícola junto dos gestores detentores de fazendas financiadas pelo Projecto, localizadas nas áreas de intervenção do PDAC, como é o caso da província de Malanje.
Muitas vezes, dependendo do tema da formação, também são convidados estudantes dos institutos superior e médio ligados ao sector agrícola, já que serão os futuros agricultores e gestores das empresas agrárias. Destas formações participam, de igual modo, membros das comunidades locais, dado que são, também, os partícipes neste processo de massificação agrícola local.
A organização de uma fazenda, ou seja, de uma empresa agrícola é sustentada por dois eixos fundamentais:
- 1º- Estrutura Agrícola: abrange a organização física e administrativa da fazenda. Isto inclui a distribuição de áreas para diferentes cultivos, instalações para armazenamento e processamento, bem como infraestrutura para apoio às operações, como sistemas de irrigação e maquinaria.
- 2º-Planeamento Agrícola: engloba a coordenação e controlo das actividades agrícolas. Isto envolve decisões sobre escolha de culturas, alocação de recursos, gestão do pessoal, controlo de pragas e doenças, além das estratégias de comercialização, controlo e protecção do meio envolvente.
Os elementos-chave na organização e gestão de empresas agrícolas são os recursos humanos (homens/mulheres), que na sua actuação diária fazem com que, tanto a estrutura agrícola como o planeamento agrícola, funcionem como um único elemento, de forma eficiente e trazendo consigo a rentabilização da empresa agrícola. Razão pela qual, o PDAC, dentro das suas políticas presta maior atenção aos recursos humanos, exigindo as empresas agrícolas financiadas pelo Projecto a remunerarem de forma condigna os seus trabalhadores, assim como a melhorar as condições sociais, por forma a salvaguardar os interesses do trabalhador.
Porém, embora o PDAC trabalhe arduamente junto dos gestores agrícolas, esta realidade ainda está longe de ocorrer no seio de alguns gestores, que insistem em trabalhar de forma empírica, remunerando mal os seus trabalhadores, com escassas condições sociais condignas, sem contratos de trabalho e sem inscrições na segurança social. Alguns gestores somente priorizam os salários dos Eng. Agrónomos e dos contabilistas no primeiro ano, com o fundo de maneio alocados pelo PDAC. Mas, por insistência de uma má gestão da fazenda e o não cumprimento das instruções passadas pela equipa do PDAC, no segundo ano, sem estes fundos, entram em dificuldades de pagarem os salários, o que resulta no abandono das fazendas, por parte destes técnicos.
Pelo que temos verificado, esta situação acaba por afectar os resultados esperados por parte de algumas empresas agrárias, como a baixa produção, a falta de justificativos de compras, a falta de apresentação de balancetes mensais de contas, a falta de apresentação de relatórios semestrais e anuais aos órgãos competentes, e por aí a fora.
É facto assente que toda a mudança de atitude gera alguma resistência na sua aplicação. Daí que, até certo ponto, entende-se que exista essa resistência, por parte dos gestores, na adoção de novas tecnologias ou mudanças de atitude.
Mas para frente é o caminho, e como diz o ditado “água mole em pedra dura tanto bate até perfura” nós, PDAC, iremos insistir constantemente, quantas vezes forem necessárias, para que as orientações sejam cumpridas, principalmente, em matéria de gestão e organização empresarial, dado que não há avanço e muito menos resultados positivos e satisfatórios sem uma gestão eficaz e eficiente de todos os recursos colocados a nossa disposição.
Relativamente a adoção de novas tecnologias, também é facto, que nos tempos que correm, a tecnologia e a inovação são essenciais para o desenvolvimento das empresas e da sociedade como um todo, logo, é essencial a sua implementação dentro das empresas agrárias, se quisermos realmente fazer uma agricultura comercial.